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domingo, 19 de agosto de 2012


Zezé Di Camargo por Camilla: depoimento na íntegra

Este depoimento é parte integrante da matéria "Pais ilustres: Roberto Carlos, Zezé Di Camargo e Fernando Gabeira", publicada originalmente na revista Glamour deste mês


Zezé Di Camargo por Camilla

Sempre tive de conviver com a ausência física do meu pai, que tem uma agenda de shows insana. Mas nunca me acostumei. Aos 3 anos, meu corpo somatizava na forma de uma febre que só passava quando ele voltava de viagem. Quando meus irmãos, minha mãe e eu moramos nos EUA, em 1999, sofria intensamente todas as vezes que ele, que continuou morando no Brasil, ia embora. Claro que o tempo vai passando, e as lições e lembranças boas ocupam o lugar da saudade doída… Porém, nada me deixa mais alegre que escutar seu sonoro “Cheguei!” cada vez que entra em casa. Ou ouvi-lo me chamando de “docinho”.


Já passamos por muitas coisas boas e outras nem tanto, como o sequestro do meu tio, em 1998, e quando meu pai teve de operar as cordas vocais, em 2008, e quase perdeu a voz. Nessas épocas deparei com um pai que não conhecia: triste, vulnerável. Logo ele, sempre uma rocha, resolvedor de problemas de todo mundo, invariavelmente com um sorriso no rosto. No entanto, mesmo destruído por dentro, ele se preocupava em acalmar a família. Não esquecerei jamais: quando minha tia Marlene ligou para nos avisar do sequestro, fui eu quem atendeu o telefone. Ela chorava muito, eu gelei e passei para o meu pai. Fiquei olhando para ele, lívido, ouvindo a notícia terrível. De repente, mesmo em meio à dor, seu semblante se transformou e ele sorriu para mim, pois me viu preocupada. Foram três longos meses em que meu pai foi a força de todos nós. Amparou minha avó, consolou meu avô… Foi seu otimismo que manteve todos de pé.

Sua alma é das mais cristalinas que já vi. “A vida me deu tudo, não preciso de muito mais”, justifica-se quando o criticam de viver presenteando os outros. E não é da boca para fora, não. Ele doa casa, faz de tudo para quem gosta. Sinto um orgulho infinito de tudo o que ele conquistou. Ver meu pai, que mal teve a oportunidade de terminar a escola, indo às lágrimas na minha formatura da faculdade é das cenas que mais me arrepiam de lembrar. Ele foi à festa, dançou comigo e ficava todo bobo repetindo que a filha dele tinha se formado.

Este é o meu pai: um cara que conta as melhores piadas de bêbado do mundo, me acorda de madrugada para perguntar minha opinião sobre o novo DVD que acaba de sair do forno, quer saber o que acho de sua roupa antes de sair de casa e diz que morre de saudades do cheirinho que só o meu quarto tem. Já ri e chorei tanto no seu colo, pai. Você é a música da minha vida!

Um comentário:

  1. Nossa me emocionei e lembrei tanto do meu pai agora,Camila continue assim e ame esse pai á cada dia mais,parabéns você é uma filha maravilhosa.

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